Nota: Dou de um a três espirros pelas manhãs. O acontecido é por voltas das 09h, todos os dias. Sem feriado e sem distinção de local.
Percebi dia desses, quando minha colega de apartamento me desejou saúde com um risinho contido por conta do barulho ocasionado pelos benditos espirros. Me virei para ela e disse na tentativa de justificar (agora nem eu sei o porquê):
- Tenho espirros matinais.
- O quê?
- Espirros matinais. — Repeti confiantemente como se aquilo fosse um certo mal comum de conhecimento de todos.
- Ah, é? Deve ser a poeira menina. — Argumentou enquanto continuava seus afazeres.
- Pode ser, mas eu acabo de perceber que sempre espirro nesse horário. Engraçado né? É quase como um ritual para começar o dia.
Silêncio. Com certeza essa pauta peculiar não fez muito sucesso com ela.
A conversa sobre o que me acontecia diariamente havia chegado ao fim. Embora na minha cabeça borbulhava algumas ideias esquisitas, talvez um romance com o título de Espirros Matinais. Não sei exatamente qual poderia ser o roteiro, mas no mínimo seria curioso.
Talvez haja mais particularidades tão perdidas e ignoradas em nossa rotina, que poderiam render muitas histórias. Me apetece agora que o filme a qual me referia acima poderia iniciar com a mocinha indagando o rapaz ao seu lado no balcão da padaria com:
- Tem alguma coisa que acontece contigo todos os dias?
- Como assim? — Ele responde intrigado.
- Espirros matinais é o que me acontece diariamente. Espirro por volta das 09h aparentemente sem motivo.
- Bom, pode ser friagem, ou uma alergia, ou uma esquisitice das boas.
E dessa forma, dois estranhos se conhecem. Quem sabe aonde essa conversa pode acabar?
E se não acabar, onde estaria indo nesse momento? Estaria acontecendo ainda hoje, só que com filhos, netos e amigos?
Quem pode saber.
Estou aqui apenas para notificar sobre pequenas coisas.
Elas podem ser insignificantes ou transformadoras.
É questão de observar.
A-tchim.